sábado, 13 de junho de 2009

Saudade -

Cecilia Meirelles

A natureza da saudade é ambígua:
associa sentimentos de solidão e
tristeza – mas, iluminada pela
memória, ganha contorno e expressão
de felicidade. Quando Garrett a
definiu como “delicioso pungir de
acerbo espinho”, estava realizando
a fusão desses dois aspectos opostos
na fórmula feliz de um verso romântico.
Em geral, vê-se na saudade o sentimento
de separação e distância daquilo que se
ama e não se tem.
Mas todos os instantes da nossa vida
não vão sendo perda, separação e distância?
O nosso presente, logo que alcança o
futuro, já o transforma em passado.
A vida é constante perder. A vida é,
pois, uma constante saudade.
Há uma saudade queixosa: a que desejaria
reter, fixar, possuir.
Há uma saudade sábia, que deixa as
coisas passarem , como se não passassem.
Livrando-as do tempo, salvando a sua
essência da eternidade.
É a única maneira, aliás, de lhes dar
permanência: imortalizá-las em amor .
O verdadeiro amor é, paradoxalmente,
uma saudade constante,
sem egoísmo nenhum.

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