domingo, 16 de março de 2008

Saudades

Ando com saudades de café com pão, de namorados
dando beijinhos no portão, de pedir bênção a pai
e mãe, (Deus te abençoe), do sinal da cruz que
fazia quando passava na frente da igreja, de
ver um varal cheio de roupa com cheiro apenas
de sabão, de ver alguém sorrindo enquanto lava
a louça com bucha vegetal, de sentir respeito
pela policia, de cantar o hino Nacional com mão
no peito e lágrimas nos olhos, de acreditar que
o Brasil ganhou a Copa do Mundo porque jogou
direito, de saber que o Zezinho filho do
porteiro não vai morrer de dengue e que Maria
feirante poderá ter um filho médico.

Saudades de homens que usavam apenas o
assobio como galanteio. Fiu-fiu!

Morro de saudades do tempo em que um
presidente de uma nação era o mais
respeitado cidadão do país.
Que cadeia era lugar só de ladrão.
Acho que andaram invertendo a situação.

Ando com saudades de galinha de
galinheiro, de macarrão feito em
casa com tempero sem agrotóxico,
de só poder tomar guaraná em dia
de festa, de homens de gravatas,
de novela com final feliz, de
pipoca doce de pipoqueiro, de dar
bom dia à vizinha, de ouvir alguém
dizer obrigado ao motorista e ele
frear devagarinho preocupado
com o passageiro.

Saudades de gritar que a porta está
aberta para os que chegam. Um saco
destrancar tanto papaiz.

Saudades do tempo em que educação
não era confundida com autenticidade.
Hoje se fala o que quer, em nome de
uma "tal" verdade e pedir perdão
virou raridade.

Ando com saudades de ver no céu pipas
não atingidas pelo efeito estufa.
Saudades das chuvas sem acidez, que
não causavam aridez.
Saudades de poder viajar sem medo de
homem bomba, de ser recebida com
pompa em outra nação.
Actualmente reina a desconfiança no
coração.

Sinto muitas saudades do rubor das
faces de minha mãe, quando se
falava de sexo totalmente sem nexo.
Hoje ele é tão banal que até eu banalizei.

Acho que a maior saudade que tenho
é a saudade de tudo que acreditei.

Para minha filha não poderei
deixar sequer a esperança.
Hoje já não se nasce criança.

(autor desconhecido)

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